Adriana Garcia

Observações solares em Janeiro de 2000

 
  Diariamente, sempre que as condições atmosféricas o permitem, com o espectroheliógrafo do Observatório são obtidos espectroheliogramas na risca do cálcio ionizado (Klv e K3 ) e na risca do hidrogénio (H-alfa) que permitem observar diferentes níveis da atmosfera solar. Através dos espectroheliogramas em Klv podemos estudar a fotosfera onde se visualizam as manchas solares.

Galileu verificou que as manchas se deslocavam de Este para Oeste ao longo do disco solar durante um periodo de 13 dias, depois desapareciam atrás do disco solar durante igual tempo, e reapareciam de novo no limbo (ou bordo) a Este. Isto implicava que as manchas fossem parte da superfície solar e que a superfície rodasse em torno de um eixo com um período de cerca de 27 dias. Por alguma razão, talvez sabendo que o mundo não receberia com agrado a possibilidade de o Sol ter manchas, contrário à teoria de Aristóteles, Galileu não publicou a sua descoberta.

Foi Johannes Fabricius, alguns meses mais tarde, fazendo observações idênticas, o primeiro a publicar este resultado. Sabemos hoje que o eixo de rotação do Sol é aproximadamente perpendicular ao plano da órbita da Terra em torno do Sol, o plano da eclíptica. Faz uma inclinação de apenas 7 graus. O Sol roda na mesma direcção que a Terra no seu movimento anual em torno do Sol. Além disso, o eixo N-S de rotação da Terra tem uma inclinação de apenas 23.5 graus relativamente à perpendicular ao plano da eclíptica, e o seu sentido de rotação é o mesmo do Sol e o mesmo da sua translação em torno do Sol. Como quase todos os planetas no Sistema Solar têm aproximadamente o mesmo alinhamento dos seus eixos de rotação, leva a supor que estas circunstâncias não são coincidência, mas que devem reflectir uma direcção preferencial da rotação do gas e poeira que constituia a primitiva nuvem apartir da qual o Sol e os planetas se formaram.

A rotação do Sol, determinada pelo movimento das manchas, é diferente da rotação da Terra. O Sol tem um movimento de rotação diferencial: as regiões equatoriais rodam mais rapidamente do que os polos. As manchas a latitudes ±10 graus têm uma rotação de 27,1 dias; a ±20 graus de 27.6 dias; a ±30 graus de 28,5 dias.

Recentemente, utilizando o efeito de Doppler, pôde medir-se a velocidade de aproximação do limbo Este do Sol e a velocidade de afastamento do limbo Oeste e verificar se a fotosfera do Sol, que é a superfície cuja velocidade estamos a medir com o efeito de Doppler, se roda com o mesmo periodo das manchas. Supreendentemente, a fotosfera parece rodar mais lentamente do que as manchas. É como se as manchas estivessem a "nadar" na fotosfera na direcção da rotação solar, á medida que o Sol roda.

O movimento de rotação diferencial explica a ordem que se observa na polaridade das manchas solares. Joga um papel importante na criação dessas manchas, manchas que permitiram descobrir a rotação diferencial do Sol.

No espectroheliograma K1v do dia 12 de Janeiro observamos grupos de manchas nas longitudes 28W, 27W, 7E, 45E e 70E.
No dia 14 de Janeiro as suas longitudes são respectivamente 52W, 50W, 19W, 17E e 43E. Podemos observar dois novos grupos a 59E e 74E
No dia 16 de Janeiro observamos que já se encontram a 78W, 76W, 45W, 7W, 16E, 36E e 47E
Se compararmos o espectroheliograma do dia 17 de Dezembro 1999 com o espectroheliograma do dia 14 de Janeiro 2000 observamos que algumas regiões activas são as mesmas. A que se encontra em 14-Jan a 17E apareceu pela 1ª vez no limbo Este a 19 de Outubro. Apareceu novamente em Novembro, em Dezembro e em Janeiro
Adriana Garcia
Assessora de Observações Astronómicas
Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra
Email:
astronomico@gemini.ci.uc.pt