O
Ensino Superior em Portugal
João Filipe Queiró
Fundação Francisco Manuel dos Santos, 96 p., Lisboa 2017.
Repito algo que já disse neste
ensaio: o principal problema que se coloca a respeito do Ensino
Superior público em Portugal é o envelhecimento, sem
substituição, do corpo docente. Este facto é consequência
directa da quebra do financiamento registada na última dúzia de
anos, agravada pela crise das contas públicas a partir de 2010.
Por todo o país o número de concursos diminuiu drasticamente,
com grande redução de recrutamentos e promoções. Ao mesmo tempo,
aumentou o número de doutorados, alguns de grande qualidade, com
poucas perspectivas de trabalho em Portugal.
Dada a importância crucial do Ensino Superior para o país,
descrita e analisada no 1.º capítulo do ensaio, a questão da
correcção do subfinanciamento deve ser objecto de acordo
político de fundo, transcendendo a querela partidária de
superfície. Ao mesmo tempo, devem ser reforçados os mecanismos
de exigência e responsabilização das instituições de Ensino
Superior em todas as dimensões, de forma a garantir o bom uso
dos dinheiros públicos.
Nada é mais político, no sentido estrito da palavra, do que as
escolhas orçamentais. Portugal tem de decidir quanto quer gastar
em cada sector do Estado e em particular no Ensino Superior,
evitando cortes transversais cegos que são a negação do que
significa escolher entre prioridades.
A reflexão sobre este tema deve evitar demagogias, propagandas e
tácticas. O Ensino Superior é um tema de discussão política
normal como qualquer outro. Mas se for trazido para a arena da
discussão partidária mais rasteira, em debates com forte
componente demagógica, estará a assistir-se a um mau serviço
prestado ao país, como aconteceria se o mesmo se passasse com as
Forças Armadas.
O Ensino Superior merece melhor. Portugal também.