A Universidade
Portuguesa · Uma reflexão
João Filipe Queiró
Gradiva 1995
Posfácio
Poucas cenas da nossa vida cultural
são mais deprimentes do que ouvir um grupo de estudantes
universitários — como há um ano ou dois se ouviu na televisão, já
não sei a propósito de que incidente — dizer dos seus professores:
«Eles podem ser óptimos, muito sábios e competentes, reconhecemos
isso, tudo bem; nós é que não precisamos, basta-nos o 10 (ou:
basta-nos o diploma).» O problema é que essa atitude traz consigo
em embrião uma outra: «Eles (alemães, japoneses, americanos) são
óptimos, estudam muito, produzem aparelhos excelentes,
reconhecemos isso, tudo bem; nós (portugueses) é que não
precisamos, os outros que estudem, nós só queremos usar os
aparelhos.» Nada é mais pernicioso do que esta atitude: Outros
pensarão e estudarão por nós. Outros produzirão por nós. No
limite, outros decidirão por nós.