A evolução do Ensino Superior
João Filipe Queiró
Resposta ao inquérito "Portugal tem demasiados licenciados?"
Jornal de Letras, 12-15 November 2014.



A questão dos diplomados do ensino superior em Portugal, o seu número, a evolução desse número no tempo, as áreas dos cursos, etc., é demasiado vasta para um comentário simplificador. Seguramente Portugal chegou tarde à massificação do ensino superior, como chegou tarde à alfabetização da população (a diferença neste aspecto entre nós e o norte da Europa, no princípio do século XX, era dramática).

 

É inequívoco que uma população mais qualificada conduz a maior desenvolvimento. Mas também aqui as coisas não são simples: a procura estudantil é muito diversificada – e agora ainda mais, com a extensão da escolaridade obrigatória para os 18 anos – e portanto a oferta também deve sê-lo.

 

Fala-se da crise das Humanidades, mas em Portugal, no concurso nacional de acesso, notou-se o contrário: na ocupação das vagas na 1.ª fase, as Humanidades subiram em relação ao ano anterior e as Ciências e as Engenharias desceram, com valores já preocupantes em alguns cursos.

 

Ora estas são áreas com bons níveis de emprego e boas contribuições para a Economia. O que se observa é que o país não “produz” jovens em número suficiente com Matemática e Física-Química no Secundário, o que nos interpela sobre o estado do ensino dessas disciplinas.

 

Ao mesmo tempo, cresce o número dos jovens que não trabalham nem estudam. Talvez a criação dos novos cursos politécnicos de dois anos se venha a revelar a medida mais importante para o aumento do número de cidadãos com estudos superiores e boas perspectivas profissionais.