Mosteiro de Celas, R. Dr. Manso Preto
Horário: 14.00-17.30
Sábado/Domingo: 11.00-12.30, 14.00-17.30
Entrada Livre
Em Fevereiro de 1992,
Luigi Ghirri
desaparecia brutalmente, com 50
anos, deixando uma obra essencial para a fotografia italiana
contemporânea. Tinha-se distinguido como um dos melhores
coloristas da sua geração, mas também como um
dos que mais tinham reflectido sobre a paisagem, nomeadamente em
Itália. E isso sem no entanto realizar uma obra com a frieza
da abordagem conceptual. Bem pelo contrário, a mensagem de
Luigi Ghirri
é viva e calorosa; também eivada de uma
certa ironia. A sua fotografia nunca deve considerar-se literalmente
como reportagem. Há sempre uma distância entre ele e
a realidade, imagens nas imagens.
Gabriel Bauret
O homenzinho à beira do precipício
Desde pequeno, as fotografias de que gostava mais eram as de paisagem, que via nos atlas, entre dois mapas de geografia.
Fascinavam-me muito particularmente as fotografias em que aparecia, inevitavelmente imóvel, um homenzinho esmagado pelas Cataratas do Niagara, montanhas, rochedos ou enormes salgueiros, palmeiras gigantescas ou então à beira de um precipício. Voltava a encontrar este personagem nos postais que representavam lugares mais menos célebres, empoleirado nos monumentos históricos, perdido nas ruínas do Forum romano ou debaixo da Torre de Pisa.
Este homenzinho vivia num estado de perpétua contemplação do mundo e a sua presença nas imagens conferia-lhes uma atracção especial. Era não só o metro padrão das maravilhas representadas, mas também a unidade de medida humana que me restituía o sentimento do espaço; em todo o caso, eu via-o assim, e pensava, por intermédio dele, que compreendia o mundo e o espaço.
Também gostava da ideia de que o fotógrafo nunca estava sozinho nestes lugares, mas que tinha sempre à disposição um amigo ou um conhecido com quem atravessava o mundo, ou o descobria, ou o representava. Nunca consegui ver de facto um, conferir-lhe uma identidade: o homenzinho era sempre um desconhecido para mim, mas acompanhava-me aos lugares mais desconhecidos e mais extraordinários que ele próprio via, contemplava, media.
Quando mais tarde comecei a fotografar, continuei a olhar para
fotografias de paisagem, mas nunca mais encontrei o homenzinho.
Sucediam-se fundos, cenários e espaços soberbos, mas
cada vez mais desertos e mais incompreensíveis, desfazendo-se
em pedaços e multiplicando-se de uma forma cada vez mais
vertiginosa. Tudo isso me parecia inabitável, mais exactamente,
os lugares tinham desaparecido e restavam esplêndidos
cenários a preto e branco ou en technicolor, e o homenzinho
já não estava lá; tinha-se ido embora, levando
consigo a representação dos lugares e deixando-nos
o seu simulacro."
Luigi Ghirri
in Paesaggio Italiano, 1989
Cortesia: Paola Ghirri