A
Estrutura Óssea do Fémur
Luís
Trabucho
Fac.
Ciências, Univ. Lisboa
A
esqueleto dos vertebrados é essencialmente constituído por dois
tipos de estrutura óssea: osso cortical -- denso e compacto; osso trabecular
-- poroso e esponjoso. Em 1892, o fisiologista alemão Julius Wolff propôs
uma explicação para a distribuição destes dois tipos
de estrutura designada, actualmente, por Lei de Wolff. A ideia subjacente consiste
numa visão dinâmica da estrutura óssea como consequência
da sua adaptabilidade às diversas solicitações externas.
Num local onde as tensões mecânicas passem a ser mais elevadas
existirá deposição de matéria óssea enquanto
que, num outro, onde, a partir de determinado momento, as tensões diminuam
substancialmente passará a existir absorção de matéria
óssea. A este processo de absorção/deposição,
de matéria óssea, dá-se o nome de remodelação
óssea. Possuir um modelo fiável de remodelação óssea
é da maior importância no caso dos implantes ortopédicos;
tratamento de fracturas; biomecânica desportiva; prevenção
da osteoporose; tratamento de assimetrias ósseas durante o crescimento,
{\it etc}. A Lei de Wolff afirma ainda que, perante uma mudança de estímulos
exteriores, a remodelação dá-se segundo direcções
privilegiadas associadas às direcções de maior tensão
mecânica. Esta afirmação tem conduzido à elaboração
dos mais variados modelos analíticos e empíricos nos últimos
cem anos. Com o advento dos grandes meios de computação e o desenvolvimento
de conceitos matemáticos associados à optimização
de estruturas foi possível começar a ter uma maior compreensão
do processo mecânico de remodelação óssea e, simultaneamente,
generalizar a maioria dos modelos propostos neste último século.
Nestes novos modelos a Lei de Wolff surge, naturalmente, associada a condições
necessárias de estacionaridade de determinados funcionais de energia.
A discretização destes modelos matemáticos tem conduzido
a simulações numéricas que, além de permitirem uma
melhor compreensão do fenómeno da remodelação óssea,
começam a desempenhar uma enorme ajuda na prática clínica.
Nesta conferência ilustrar-se-ão estes conceitos aplicando-os ao
estudo da estrutura óssea do fémur.