Teresa Costa & Helmuth R. MalonekUma iniciativa notável de Costa Lobo(Anotações sobre oportunidades que Portugal não aproveitou) |
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Francisco Miranda da Costa Lobo é
uma figura notável da Astronomia portuguesa do século XX
tendo introduzido no País a Física Solar (vd.
A Esfera de Costa Lobo neste jornal).
Este artigo visa dar a conhecer outro aspecto da sua personalidade multifacetada,
a saber, os esforços no sentido da renovação dos estudos
matemáticos.
Assim escreve Francisco da Costa Lobo na revista O Instituto a propósito da sua participação, como representante do governo português, no VII Congresso da União Matemática Internacional, realizado em Toronto de 11 a 15 de Setembro de 1924. Nas palavras de Costa Lobo estão patentes, o seu entusiasmo relativamente ao funcionamento da Universidade de Toronto e o seu encanto pela cidade. Mesmo longe do seu país, Coimbra permaneceu na sua memória, o que o levou a estabelecer, comparações entre as duas cidades. É notável o pormenor com que Costa Lobo descreve alguns aspectos do seu encontro com uma outra realidade que em sua opinião poderia servir de modelo à vida académica de Coimbra. Alguns aspectos, como por exemplo,
O clima de cordialidade e de convívio entre os congressistas
esta presente logo no início do congresso, tal como nos descreve
Costa Lobo [ Lob, 1924]
:
Não deixa de ser admirável o ambiente de convívio descrito por Costa Lobo. Entre os congressistas, encontravam-se alguns matemáticos de renome que viriam a ser convidados para sócios correspondentes estrangeiros do Instituto de Coimbra na reunião da Assembleia Geral, que se realizou a 28 de Outubro de 1924. Entre os convidados encontravam-se vários famosos matemáticos,
por exemplo:
Costa Lobo não encarou aqueles convites como mera formalidade mas antes como uma tentativa de aproveitar oportunidades para Portugal, no sentido de abrir a comunidade matemática portuguesa ao exterior. Restam-nos dúvidas sobre o êxito da iniciativa de Costa Lobo, contudo, e a título de exemplo positivo, citamos o caso de Rudolf Fueter que visitou a Universidade de Coimbra em 1932. Aquele matemático suíço, formado em Göttingen e discípulo de David Hilbert, foi em 1910 um dos fundadores da Sociedade Matemática da Suíça. Foi também Reitor da Universidade de Zurique nos anos 1920-1922 e criou, em 1928, a revista Commentarii Mathematici Helvetici. Na Revista da Faculdade de Ciências pode ler-se uma nota
sobre a sua visita ao nosso país que passamos a transcrever (Revista
da Faculdade de Ciências, volume II, nº4, [
Fue, 1932] ):
A exposição de Fueter teve por tema Quelques
résultats de l'algèbre moderne e o autor apresenta
como referências históricas os trabalhos de Hamilton sobre
quaterniões que constituem um dos alicerces da álgebra moderna.
De uma forma não intencional, aquele matemático vem ressuscitar
um tema de interesse na Faculdade de Matemática, na década
de 80 do século XIX. São disso testemunho os Princípios
Elementares do Calculo de Quaterniões, de Augusto d'Arzilla
Fonseca [ Fon, 1884]
.
Na verdade o trabalho de Fonseca, reconhecido, na época, por Gomes Teixeira, teve o mesmo destino que outras novidades (recordemos o trabalho de Henrique Manuel de Figueiredo sobre Superfícies de Riemann; c.f. [ Gra, 1999] ) que chegaram a Portugal, não tendo sido aproveitado como tema de ensino ou de investigação. Curiosamente, encontramos o tema Quaterniões no currículo do curso de Matemática em Toronto, no ano de 1924, tal como nos relata Costa Lobo. Vale a pena mencionar a importância que os quaterniões viriam a adquirir quer na Física Quântica, quer na criação da Análise de Clifford, sem esquecer a robótica, a engenharia aeroespacial, as questões de realidade virtual, entre outros assuntos. Rudolf Fueter, considerado o fundador da Análise de Quaterniões,
após a sua visita ao nosso país, escreveu um artigo sobre
Coimbra [Neue Zürcher Zeitung; 28./29. 12. 1932], onde descreve com
grande simpatia alguns aspectos da vida académica e menciona Costa
Lobo como o famoso astrónomo de Coimbra.
Sem dúvidas, Costa Lobo era um homem sensível e aberto às criações no seio da Matemática, com o sonho de conferir a Coimbra o reconhecimento internacional naquela área. Contudo, toda a história humana é uma sucessão sem fim de oportunidades bem ou mal aproveitadas, com consequências boas ou menos agradáveis, e neste sentido parece-nos que as ideias daquele professor de Coimbra, na sequência da sua participação no VII Congresso da União Matemática Internacional em Toronto foram, infelizmente, mal aproveitadas... Bibliografia
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Teresa Costa
Escola Secundária de Montejunto E-mail: Teresa.Costa-751@clix.pt Helmuth R. Malonek Departamento de Matemática Universidade de Aveiro E-mail: hrmalon@mat.ua.pt |
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