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Retomamos o trabalho sobre
a idade das estrelas. No artigo precedente (A idade
das estrelas I) concluímos que
a idade máxima de uma estrela está condicionada pela
exaustão do hidrogénio no centro e que a sua combustão
deste elemento químico é tanto mais rápida quanto
maior for a massa da estrela. Em particular os modelos
teóricos de estrelas indicam que a idade máxima de uma
estrela, tmáx, varia com a
massa, M* , de acordo com a
seguinte relação (cf. Hansen & Kawaler
1994):
onde Mo representa a massa do Sol. Cabe agora discutir quais as evidências observacionais que permitem, por um lado,
Diagrama de Hertzsprung-Russel: observação versus teoriaNo início no século XX os astrónomos dinamarquês Ejnar Hertzsprung e americano Henry Norris Russel, trabalhando independentemente, mostraram que as estrelas não têm posições aleatórias num diagrama de luminosidade, L energia libertada pela estrela por unidade de tempo em função de temperatura efectiva, Teff temperatura na superfície da estrela. A este diagrama foi dado justamente o nome de Diagrama de Hertzsprung-Russel (DHR). Na figura 1 apresenta-se as duas possibilidades para DHR: à esquerda um diagrama observacional de estrelas próximas; à direita um diagrama teórico apresentando a previsão da posição das estrela de massa entre 0.8Mo e 9.0Mo. Neste diagrama, cada linha a cheio representa e evolução ao longo do tempo de uma estrela de uma dada massa entre a sua formação e a fase de Gigante Vermelha (mais abaixo neste texto). Da análise da sobreposição destes dois gráficos resulta um conjunto de conclusões de máxima importância para este trabalho.
No DHR observacional é clara a maior concentração de estrelas numa banda diagonal (limitada pelas linhas a preto) que se estende entre a parte inferior direita do diagrama (zona de estrelas mais frias e pouco luminosas) e a parte superior esquerda (estrelas quentes e luminosas). Esta banda que contém na realidade perto de 90% do total das estrelas do diagrama é denominada de sequência principal. Esta banda tem o seu paralelo no gráfico teórico na zona representada a sombreado - evolução da estrela até ao momento da exaustão do hidrogénio no centro. Combinando as duas informações resulta que 90% das estrelas se encontram a transformar hidrogénio em hélio, o que dá indicação de que o processo de exaustão do hidrogénio é muito mais demorado do que as fases de evolução posteriores. Fica assim justificada a relação entre a idade máxima de uma estrela e a exaustão do hidrogénio no centro da estrela. É de notar no entanto que uma discussão mais rigorosa implicaria dispor de modelos com um intervalo de composição química típica das observações. No entanto as conclusões aqui apresentadas não seriam, na sua essência, alteradas. Da comparação dos dois gráficos fica ainda claro que uma estrela depois da sequência principal flecte para a direita do gráfico entrando na fase de Sub-Gigante. Ao ponto da flexão dá-se o nome de turnoff que corresponde exactamente ao terminus da combustão do hidrogénio no centro. Posteriormente a estrela "sobe" no diagrama para a fase de Gigante Vermelha (a temperatura efectiva aproximadamente constante). Pela argumentação anterior pode concluir-se que o tempo de vida das estrelas nestas fases e muito inferior ao tempo passado na sequência principal já que o número de estrelas existentes nestas fases é reduzido. No que concerne a relação entre o tempo de vida máximo e a massa da estrela, também esta pode ser explicada pela análise dos diagramas. É bem visível que a zona superior da sequência principal do DHR observacional é menos populada de estrelas do que as zonas intermédias e inferiores. O DHR teórico mostra-nos que quanto mais alta é a posição da estrela na sequência principal maior é a sua massa. Assim se conclui que as estrelas de grande massa são uma minoria no HRD observacional. Este facto resulta do reduzido tempo que estas estrelas passam na fase de sequência principal: 300 milhões de anos para uma estrela de massa 10Mo contra 10 mil milhões de anos para uma estrela como o Sol, tal como tinha já sido indicado em A idade das estrelas I. Idade de uma estrela: mas afinal qual é?Assim o tempo de vida na sequência principal identifica-se com o tempo máximo que uma estrela pode viver, uma vez que o tempo passado nas fases posteriores é em comparação muito mais pequeno. No entanto, falar-se em tempo máximo de vida de uma estrela não é necessariamente o mesmo que falar em idade. Assim, pode perguntar-se se para uma dada estrela é possível conhecer a sua idade, e não unicamente o tempo de vida máximo ? Depende ! Podemos considerar três situações:
Log N (Li) = - 0.29 log t (anos) + 5.27 + 1.40 [Fe/H] onde N(Li) é a abundância do lítio em relação ao hidrogénio. * Para o fim fica uma referência ao Sol. O caso solar é particular e único entre as estrelas. A idade do Sol é determinada por datação dos meteoritos (condritos) mais antigos que cairam na Terra. Supõe-se que estes meteoritos contêm a informação dos instantes iniciais do Sistema Solar. São assim medidos elementos radioativos, como Rubídio, no sentido de determinar a idade. Actualmente pensa-se que o Sol terá entre 4.5 e 4.6 mil milhões de anos (Guenther,1989). A terminar e em forma de conclusão é importante referir que conhecimento da idade das estrelas é algo fundamental para o correcto conhecimento dos processos que tomaram (e tomam) parte na formação e evolução do Universo. Há no entanto muito caminho a percorrer quer do ponto de vista observacional, com a constante melhoria da qualidade das observações, quer do ponto de vista teórico, com o desenvolvimento mais detalhado dos modelos de evolução estelar. Bibliografia
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João
Fernandes Astrónomo do OAUC Professor do Departamento de Matemática E-mail: jmfernan@mat.uc.pt |
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