O isolamento e as Conferências Democráticas do Casino

Foi essencialmente para quebrar o nosso isolamento e lutar contra o atraso que foram promovidas, pela chamada geração de 70, as Conferências Democráticas do Casino.

No manifesto de 16 de Maio de 1871, Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queirós, Germano Meireles, Guilherme de Azevedo, Batalha Reis, Oliveira Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Sáragga e Teófilo Braga proclamaram ([65], pp. 195-196):

"Não pode viver e desenvolver-se um povo isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo; (...).

Abrir uma tribuna, onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam este momento do século, preocupando-nos sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos; ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a humanidade civilizada; (...)"

eram alguns dos objectivos das Conferências Democráticas, constantes do manifesto.

As primeiras seis conferências previstas eram as seguintes:

1) Causas da decadência dos Povos Peninsulares, por Antero de Quental;

2) A Literatura Portuguesa contemporânea, por Augusto Soromenho;

3) O realismo como expressão da arte, por Eça de Queirós;

4) A questão do ensino, por Adolfo Coelho;

5) Os historiadores críticos de Jesus, por Salomão Sáragga;

6) O Socialismo, por Batalha Reis.

Só as primeiras quatro foram realizadas, pois, quando, em 26 de Junho de 1871, se ia realizar a 5(a) conferência, as portas do Casino estavam fechadas e nelas afixada uma portaria do Presidente do Conselho de Ministros, Marquês d'Avila e Bolama, datada desse mesmo dia, proibindo essa conferência e todas as seguintes ([65], pp. 197-198).

E porquê?! Segundo a circular afixada,

"por nelas se expor e procurar "sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do Estado" e por tais factos "além de constituirem um abuso do direito de reunião, ofenderem directa e claramente as leis do Reino.""

Como se vê, os reaccionários que então detinham o poder também não queriam, de modo algum, acabar com o isolamento, que há tanto tempo vinha sendo imposto ao povo português.


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