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ISSN 0870-7669 Maio
1987
Folha Informativa
do Projecto "Computação no Ensino da Matemática"
UTILIZAÇÃO DO COMPUTADOR NO
APOIO A
AULAS DE MATEMÁTICA
FERNANDO MONTEIRO ANTUNES
(professor efectivo na Esc. Sec. de Lousã)
Não existia, em finais de 1984, qualquer equipamento informático na Escola, contudo havia diversos professores interessados em servirem-se do computador para apoiarem as suas aulas. Estando na Escola um professor que além de profundo conhecedor de programação BASIC reunia excepcionais qualidades humanas, deu-se início a um "Curso de Iniciação ao BASIC", orientado pelo referido professor e servindo-se do seu "Spectrum" bem como de fotocópias do teclado do mesmo! Como é evidente, não seria com estes meios que se conseguiria dar uma formação prática a quem quer que fosse, pelo que se começou a pensar em como adquirir alguns computadores. Afastada a hipótese de as verbas virem do Ministério e dado que o orçamento da Escola também não comportava tal encargo, pensou-se em solicitar auxilio à Câmara Municipal, Assim e graças ao entusiasmo e esforço de um professor de História (nem sempre são os professores de Matemática que mais virados estão para a utilização do computador... ) passado pouco tempo estavam na Escola : três "Spectrum" com os respectivos gravadores e monitores, uma impressora e uma "drive". Foi o esforço e dedicação de alguns professores que levou estes a conseguir que um espaço que não estava destinado a sala de aula, nisso se transformasse, executando trabalhos de pintor, electricista e serralheiro. Só não se conseguiu ultrapassar a falta de cadeiras na sala.
Infelizmente o professor que liderava todo este processo abandonou a Escola e outros tiveram que dar continuidade ao projecto, começando por definir quais os objectivos que se pretendiam atingir:
- dar uma formação inicial a professores e alunos interessados,
- criar na Escola algo que correspondesse ao interesse dos alunos (de modo a que nos seus tempos livres eles a ela se dirigissem e não ao café do lado... )
- apoiar aulas de professores interessados em introduzir a informática nas suas disciplinas.
Foi a "formação de alunos" a parte mais gratificante de todo o projecto, pois que o interesse e dedicação dos mesmos ultrapassou a nossa expectativa a ponto de passado algum tempo estarem eles a formar outros alunos,
Refira-se que toda esta actividade tinha lugar sem prejuízo de aulas e a sala de informática mantinha-se quase permanentemente aberta e a partir de determinada altura sob a responsabilidade de alguns alunos, Eram estes que servindo-se da bibliografia entretanto comprada pela Escola, ou outra por eles adquirida, inclusive em aprofundavam os seus conhecimentos, Passou a existir algo na Escola que respondia às necessidades sentidas pelos jovens.
E quanto ao apoio prestado pelo computador na Didáctica da Matemática? Referiremos muito resumidamente o que connosco se passou referente à utilização de diverso software existente no mercado, A primeira conclusão que tiramos é que algum do software se destina a auxiliar o aluno, na ausência do professor e após este ter tratado determinado tema, A segunda conclusão é que a exploração teórica (utilizando os programas existentes) é muito pouco aliciante feita com o computador; já a exploração de questões práticas e principalmente geométricas resulta bastante bem recorrendo w computador, Permitimo-nos referir a utilização que os alunos fizeram de um "traçador de gráficos" para, no 11ē ano, estudarem as funções polinomiais nomeadamente a "quadrática", Aqui o computador não só permitia que o aluno verificasse se o estudo feito estava correcto, mas principalmente visualizava o gráfico de funções resultantes de alterações introduzidas pelos alunos, satisfazendo pois a curiosidade deles e iniciando-os na "experimentação" em Matemática, Terceira conclusão: foi de grande utilidade o uso de alguns programas para rever determinadas matérias, nomeadamente translações, rotações, simetrias axiais e homotetias.
Assim e em nossa opinião, parece-nos ser de destacar:
1. Diversos alunos possuem já um computador em sua casa, pelo que devem os professores familiarizarem-se com a sua utilização e capacitarem-se das possibilidades do mesmo, pois não têm o direito de negar aos alunos a utilização de um meio técnico que os pode auxiliar, não nos esquecendo contudo que não é pelo facto de um professor utilizar nas suas aulas um computador que o mesmo passa a ser um bom e actualizado educador ( poderia chegar-se ao extremo de o uso do computador servir de capa protectora a um mau professor... )
2. Não podemos fazer um uso indiscriminado de qualquer cassete que surja no mercado, pois e para lá do rigor científico, pode a mesma ser didacticamente não aconselhável,
3. Devem as Escolas, principalmente as que surjam de novo, reservar um espaço adequado à montagem de equipamento informático, pois verifica-se que algumas Escolas possuem já um equipamento mínimo e o mesmo não pode ser utilizado dado encontrar-se num espaço de todo inadequado a servir de sala de aula,
4.Deveriam as Universidades (ou as ESeS?) preparar software que corresponda às necessidades sentidas pelas Escolas, pois não nos parece viável que a médio prazo os professores do Ensino Secundário disponham de condições e incentivos que os levem a serem bons programadores, pese embora as boas intenções da Lei de Bases do Sistema Educativo que no seu artē 359 alude à formação contínua e à hipótese de existência de anos sabáticos.
Coimbra,Março de 1987
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