Pseudaria (3)
<<Estou cada vez mais convencido que não se pode demonstrar apenas com o raciocínio a necessidade da geometria euclidiana. É possível que no futuro possamos ter ideias sobre a natureza do espaço que hoje nos são inacessíveis. Assim, a geometria não pode ser posta ao lado da aritmética, que é de origem a priori , mas antes ao lado da mecânica.>> Gauss, 1817
No presente número aparecem as primeiras soluções. Continuaremos a aguardar que os leitores enviem soluções ou comentários às falácias que vão sendo apresentadas (ou até novas soluções àquelas de que já foram apresentadas soluções).
Consideremos duas circunferências de raios desiguais que se intersectam nos pontos Q e R.
Tracemos os diâmetros [PQ] e [QS] de cada uma das circunferências. Tracemos o segmento [PS] e sejam M e N os pontos de intersecção com cada uma das circunferências. O triângulo [PNQ] está inscrito na semicircunferência PRQ; assim é rectângulo em N. Também o triângulo [SMQ] está inscrito na semicircunferência SRQ e é também rectângulo em M. Assim, temos dois segmentos [QM] e [QN] perpendiculares a [PS]. Logo, pelo ponto Q passam duas perpendiculares ao segmento [PS] .
Solução (enviada por Emília do Carmo Alves Rodrigues, Escola Secundária da Rainha D. Amélia, Lisboa):
Da figura resulta que
Como QM e QN são perpendiculares a PS
Mas
pelo que
donde, utilizando o obtido antes, vem
donde, como e não são perpendiculares e é não nulo, isto é, M e N são coincidentes e é uma só a perpendicular a PS conduzida por Q .
Outra solução:
Se o ângulo PMQ é recto, o ângulo QMN também o é; se o ângulo QNS é recto, o ângulo QNM também o é. Mas então o triângulo [QMN] teria dois ângulos rectos o que é impossível. A única hipótese é os pontos M e N coincidirem, e assim, pelo ponto Q passa uma única perpendicular ao segmento [PS] .
Conideremos um triângulo [ABC] qualquer. Sejam D, E e F os pontos médios dos lados. Tracemos os segmentos DF e FE. Temos que
Assim, o comprimento da linha quebrada ABC é igual ao comprimento da linha quebrada ADFEC. Tracemos agora os pontos médios G, H e I do triângulo [ADF] e os pontos médios J, K e L do triângulo [FEC]. Usando o mesmo raciocínio que anteriormente podemos provar que o comprimento da linha quebrada ADFEC é igual ao comprimento da linha quebrada AGHIFJKLC.
Continuando indefinidamente este raciocínio, vamos obter linhas quebradas cujo comprimento é sempre o da linha quebrada ABC, ou seja, . Mas as linhas quebradas que obtemos vão estando cada vez mais próximas do lado AC do triângulo. No limite confundir-se-ão com esse lado. Assim, será . Isto é, a soma das medidas de dois lados de um triângulo qualquer é igual à medida do terceiro lado .
Solução (enviada por Emília do Carmo Alves Rodrigues, Escola Secundária da Rainha D. Amélia, Lisboa):
Temos
o comprimento do "percurso" é sempre o mesmo. O número de segmentos de recta que o constituem é um infinitamente grande, mas os comprimentos dos segmentos
definem uma sucessão que é um infinitésimo, e por isso é que há a ilusão de "aproximação" do segmento AC , mas isso não passa de uma ilusão e nada justifica a afirmação "no limite confundir-se-ão com esse lado".
Eis agora uma nova falácia para a qual solicito o envio de soluções:
Consideremos o triângulo [ARS] onde PQ e RS são paralelas.
Os segmentos [PQ] e [RS] são claramente desiguais: logo [PQ] tem mais pontos que [RS]. Mas, traçando segmentos partindo de A e intersectando o lado [RS], observamos que a cada ponto de [PQ] corresponde um ponto de [RS] e vice-versa: logo [PQ] tem o mesmo número de pontos que [RS]. Em conclusão: o todo [RS] é igual a uma parte [PQ] .
Endereços para o envio de soluções:
endereço postal:
Departamento de Matemática
Universidade de Coimbra
Apartado 3008
3000 Coimbra
endereço electrónico: jaimecs@mat.uc.pt
endereço na WEB: http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/pseud/index.html