TIMSS - Terceiro Estudo Internacional de Matemática e Ciências


Uma posição pública de Joao Pedro da Ponte (Univ. de Lisboa), Jose Manuel Matos (Univ. Nova de Lisboa), Paulo Abrantes (Univ. de Lisboa)

Para interpretar os resultados do TIMSS



Foram divulgados na passada terca-feira os resultados do estudo
internacional TIMSS. Os jornais tem feito referencia ao assunto (Expresso
de 23/11, Publico de 27/11, etc.). Dum modo geral, o tom dominate e: "Os
alunos portugeses nao sabem nada de Matematica". Aqui fica uma
interpretacao alternativa:


1. As classifcacoes dos alunos portugueses em Matematica no TIMSS estao
dentro do que seria de esperar. Situam Portugal no pelotao dos paises
intermedios, entre os paises desenvolvidos e os paises em desenvolvimento,
exceptuados os casos particulares dos paises asiaticos e de leste (com
fortissimas tradicoes de investimento social na escola). Os resultados dos
nossos alunos estao na linha de avaliacoes anteriores, sem constituir
supresa. E descabido fazer deles um exercicio de auto-masoquismo nacional.

2. Segundo o TIMSS, os resultados dos nossos alunos sao relativamente
aceitaveis no calculo, fracos na resolucao de problemas e muito fracos no
raciocinio e argumentacao, mostrando serem estes os piores do desempenho do
nosso sistema educativo.

3. Estes resultados nao constituem uma avaliacao dos novos programas
aprovados em 1991 (nem da reforma no seu todo), uma vez que sao obtidos de
alunos em fase de transicao. E preciso esperar quatro ou cinco anos (e por
vezes mais) para ter um novo programa em plena fase de aplicacao.

4. Os resultados obtidos pelos alunos traduzem:
-uma longevidade anormalmente longa de programas baseados na Matematica
moderna (1971-1991).
-um processo inadequado de introducao dos novos programas (em 1991), sem
formacao aos professores que os sensibilizasse para os novos objectivos e
metodologias.
-a falta de atencao das nossas praticas educativas as competencias como
resolucao de problemas, raciocinio e argumentacao matematica.
-a falta de um continuado investimento na educacao matematica (em especial
no que se refere a desenvolvimento curricular, formacao de professores e
dotacao das escolas de materiais e tecnologias adequadas).

Joao Pedro da Ponte, Univ. de Lisboa
Jose Manuel Matos, Univ. Nova de Lisboa
Paulo Abrantes, Univ. de Lisboa

28 Nov 1996


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Última alteração: 31 de Dezembro de 1996