A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA MATEMÁTICA
Manuel Arala Chaves
Departamento de Matemática Pura da FCUP
O PROJECTO "ATRACTOR"
Para os participantes neste debate, é concerteza supérfluo sublinhar a relevância, nomeadamente social, da divulgação científica. Há certamente consenso em se reconhecer a importância de uma atitude positiva e interessada face à Ciência em geral, por parte do público leigo e profissionalmente não envolvido em questões de natureza científica ou mesmo tecnológica. E contribuir para criar tal tipo de atitude é (pelo menos) tão importante como promover um aumento da média dos conhecimentos de natureza científica desse mesmo público.
Claro que uma parte dessa atitude é já construída a partir do tipo de experiência havida ao atravessar o sistema de ensino. Mas aí, coexistem factores diferentes, em alguns contextos com consequências antagónicas: há a tentativa de despertar interesse, mas há também uma bagagem mínima de conhecimentos a garantir e há ainda uma avaliação de desempenho a fazer, indispensável se houver uma certidão a passar, com reflexos profissionalizantes ou que tenha de garantir a possibilidade de continuação de estudos a um nível mais avançado.
Nas actividades de divulgação, está-se liberto dos aspectos de curriculum mínimo e, sobretudo, dos aspectos tantas vezes traumatizantes da avaliação, sendo possível contemplar apenas o interesse a despertar e a visão a enriquecer.
Todas estas considerações são pertinentes para qualquer tipo de divulgação científica, mas, no caso da Matemática, ganham particular acuidade por duas razões, por certo não independentes:
Em resumo, há um parti pris bastante generalizado1 contra a Matemática, baseado em numerosas experiências traumatizantes. Esta situação só vem dar uma importância social acrescida ao papel que a divulgação matemática pode ter, embora torne mais difícil, à partida, o quadro em que ela se vai desenvolver.
O Projecto da Associação Atractor – Matemática Interactiva
A minha actividade actual no domínio da divulgação matemática tem-se desenvolvido no âmbito do projecto Atractor. A Associação Atractor – Matemática Interactiva foi criada por escritura de 30 de Abril de 1999 e tem como associados institucionais fundadores: a Associação de Professores de Matemática, a Câmara Municipal de Ovar, o Centro de Matemática e Aplicações Fundamentais da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a Sociedade Portuguesa de Matemática, a Universidade de Aveiro e a Universidade do Porto.
Fins
1. A Associação tem por finalidade essencial promover a criação e assegurar a manutenção e o desenvolvimento de um Centro Interactivo dedicado à Matemática, com os seguintes objectivos principais:
a) Contribuir para despertar o gosto pela Matemática e uma melhor compreensão da sua natureza;
b) Procurar transmitir não só uma ideia da permanente vitalidade da Matemática como ciência, mas também uma perspectiva ampla relativamente aos seus variados domínios, às suas numerosas aplicações e à sua presença constante por trás das tecnologias de uso corrente;
c) Criar um ambiente estimulante, onde alunos de todos os níveis de escolaridade e o público em geral possam, de modo interactivo, desenvolver explorações matemáticas e ampliar a sua visão da Matemática;
d) Constituir, através da reunião de um conjunto de módulos interactivos de Matemática e da acumulação de experiência e conhecimento sobre a sua concepção e utilização educativa, um Centro de informação e reflexão para todos os interessados no ensino da Matemática, nomeadamente os professores.
2. A Associação, na medida das suas possibilidades, procurará alargar o âmbito geográfico do impacto das suas iniciativas:
a) Pela promoção de actividades culturais não necessariamente circunscritas à sua sede;
b) Pela organização de exposições itinerantes em colaboração com escolas e Museus de Ciência;
c) recorrendo a diversas formas de difusão e a tecnologias de interacção a distância.
O Atractor conta com diversos apoios oficiais:
E tem havido reacções recentes extremamente positivas da parte de vários colegas, quer matemáticos, quer de áreas das aplicações da Matemática, que têm mostrado empenho em colaborar activamente no desenvolvimento de módulos que venham a integrar o conjunto expositivo do Atractor.
Um projecto deste tipo não pode ignorar que uma parte muito significativa dos visitantes das suas exposições será constituída por alunos de Escolas dos diversos graus de ensino. Mas, declaradamente, o Atractor, desde o início, tem-se preocupado em não encarar as suas actividades como circunscritas a uma espécie de laboratório de apoio a aulas e, sobretudo, em diversificar os temas abordados, mesmo quando eles só remotamente estão relacionados com os elencos escolares.
Por outro lado, a interactividade, privilegiada como método de comunicação, por favorecer uma atitude activa por parte do público-alvo, levanta naturalmente algumas questões de exequibilidade, no que diz respeito à Matemática. Se a existência de exposições interactivas em ciências experimentais, nomeadamente a Física, é largamente aceite e tem vindo a traduzir-se numa proliferação de Centros Interactivos, a situação é bastante diferente no que diz respeito à Matemática. E a atitude mais frequente, mesmo da parte dos matemáticos, é a de uma prudente reserva, motivada, creio eu, por dois tipos de razões:
As pessoas que mais activamente têm colaborado com o Atractor não têm necessariamente visões coincidentes sobre a Matemática e sobre a problemática do seu ensino e da sua divulgação. Isso, na minha opinião, é um factor enriquecedor para o Atractor, com reflexos positivos no tipo da sua actuação, desde que, claro, haja – como até hoje tem havido – uma base consensual sobre certos princípios essenciais. E, entre esse consenso básico, conta-se certamente uma visão mais optimista do que a traduzida nas reservas subjacentes aos dois pontos referidos2.
Nomeadamente, a aparente antítese entre o aspecto "abstracto" da Matemática e quaisquer apresentações interactivas, vistas como concretas por excelência, revelou-se-me, em várias situações, como mais aparente do que real. Quando, numa exposição, temos vários modelos concretos que descrevem um mesmo problema e quando o visitante é levado a ver algo de comum – uma mesma estrutura – nesses diferentes modelos e a descobrir que o que há de comum entre eles é o que é realmente interessante, está a aprender, direi talvez mais apropriadamente, está a intuir o que é a abstracção, sem para tal ter de perder o contacto com o manuseamento de objectos concretos. Na parte final desta intervenção darei um exemplo típico de uma situação destas.
Claro que não estou a pretender que toda a Matemática, mesmo a um nível não avançado, é susceptível de uma apresentação interactiva do tipo sugerido. Mas alguma reflexão sobre este assunto tem-me levado gradualmente à convicção de que o leque de possibilidades é muitíssimo mais vasto do que o que à partida se poderia imaginar.
Algumas questões importantes
De entre as numerosas questões com que é confrontado, mais cedo ou mais tarde, quem se debruçar de uma maneira mais atenta sobre a problemática da divulgação científica em geral e da divulgação matemática em particular, restringir-me-ei a comentar três:
Postas nestes termos gerais, as questões dificilmente encontrarão respostas universais, pois só com referências a situações particulares concretas é possível saber exactamente de que se está a falar.
Quanto ao primeiro ponto, um caso extremo é o dos "Centros de Diversão Científica"3, que têm surgido em alguns países, em espaços públicos, por exemplo em centros comerciais. O efeito procurado é assumidamente o de diversão e é discutível qual o seu interesse, do ponto de vista de divulgação científica. Por não ter um conhecimento directo de tais recintos, não posso emitir uma opinião pessoal fundamentada, mas posso esclarecer que não tem sido essa a filosofia que tem presidido às escolhas dos módulos para o Atractor. Se obviamente não se pode esquecer qual o impacto sobre o público em termos expositivos, por exemplo pelos aspectos estético, de surpresa, ou mesmo lúdico, o critério tem sido o de não incluir nada a que não se atribua algum aspecto matemático considerado interessante. Nomeadamente, a escolha dos jogos tem sido feita com a mesma preocupação.
Por exemplo, tem-se procurado evitar o fenómeno frequente que consiste em reunir um grande número de jogos de computador, apresentados como jogos de matemática, mesmo quando a sua ligação com a matemática ou o seu valor formativo não são óbvios. Revela um certo optimismo concluir depois que o interesse que em geral esses jogos despertam nos jovens – como tudo que mete computadores – tem algo a ver com um interesse acrescido relativamente à matemática ou mesmo que esses jogos contribuíram de alguma forma para uma melhor compreensão da matemática ou para uma atitude mais positiva para com ela.
Dito isto, é bem claro que alguns assuntos, mesmo interessantes ou representativos de áreas importantes, não foram ainda tratados, porque não foi (ainda) encontrada uma forma de os tornar aliciantes do ponto de vista expositivo4. E esse é um aspecto em que estamos a aprender e podemos todos ser considerados principiantes.
A questão do rigor científico é, no meu entender, muito importante em qualquer forma de divulgação científica e, muito particularmente, na divulgação matemática. Ao abordar esta questão, é essencial começar por desfazer um possível equívoco: o "rigor" de que aqui se está a falar não tem nada a ver com o uso de uma linguagem técnica especializada, que, evidentemente, não tem cabimento numa apresentação de qualquer tipo dirigida ao grande público. Tem, sim, a ver com a criteriosa escolha das inevitáveis analogias a que se terá de recorrer e da linguagem usada. Esta, mesmo se imprecisa segundo critérios correntes entre os matemáticos, deve poder ser tornada mais precisa sem ter de ser completamente substituída.
Procurarei dar um exemplo do que tenho em mente, que será claro para matemáticos, mesmo se desgarrado do contexto dos actuais módulos do Atractor. Encontra-se por vezes a convergência de uma sucessão para um número a descrita pela condição de "os seus termos se aproximarem cada vez mais de a". Esta é uma forma infeliz de apresentar a ideia, porque não há maneira natural de a completar com precisões suplementares das palavras usadas, por forma a dar-lhe o sentido correcto de convergência: com efeito, aquela frase sugere (erradamente) que a convergência para a está ligada ao carácter decrescente da sucessão das distâncias a a e esta condição nem é necessária nem suficiente para uma sucessão convergir para a. Pelo contrário, se se traduzir a referida convergência pela condição de "ser possível substituir a por termos da sucessão de ordem suficientemente grande, cometendo um erro tão pequeno quanto se quiser", continua a ser uma frase matematicamente imprecisa, susceptível de leituras incorrectas, mas essa frase também é susceptível de uma leitura correcta, desde que sejam adequadamente traduzidas e relacionadas entre si as expressões "erro tão pequeno quanto se quiser" e "ordem suficientemente grande".
A minha opinião é que a questão do rigor científico, neste sentido lato, é crucial em qualquer forma de divulgação científica (não só matemática) e que é preferível sacrificar a apresentação de uma ideia ou prescindir de uma analogia, se não se consegue fazê-lo com rigor. E isto, repito, não é nada específico da divulgação matemática: tenho encontrado textos de divulgação com várias formas pretensamente sugestivas de descrever fenómenos físicos, que desvirtuam completamente as ideias físicas subjacentes a esses mesmos fenómenos. Creio que se trata de um mau serviço prestado à divulgação científica. E não creio que haja nenhuma forma de incompatibilidade entre o rigor – neste sentido lato – e o interesse expositivo dos módulos e a sua capacidade de cativar os visitantes.
O nível etário dos destinatários e os conhecimentos pressupostos são factores que condicionam a linguagem usada e a apresentação dos módulos. Mas nem sempre condicionam, ao contrário do que se poderia supor, os próprios módulos em si mesmos. Tem-se verificado frequentemente um mesmo módulo despertar interesse numa gama muito variada de pessoas com idades ou níveis de preparação muitíssimo diferentes. E, mesmo no que diz respeito à linguagem, parece ser possível fazer apresentações interessantes visando simultaneamente públicos com bagagens e maturidade diferentes. O Atractor tem o projecto de realizar exposições em que, junto de cada módulo, se encontrará, sob a forma impressa, relativamente pouca informação, que procurará sempre usar linguagem simples e acessível, reservando-se a informação mais completa para uma rede local de computadores. Aí, o visitante poderá facilmente escolher, entre vários disponíveis, o nível de esclarecimentos que melhor se adapta à sua curiosidade e à sua preparação ou maturidade matemática. E, sempre que possível, essa informação disponível em rede usará programas interactivos, que encorajem uma atitude activa por parte do utilizador.
Claro que a exequibilidade de um tal projecto terá de ser testada e avaliada e o próprio projecto virá a sofrer as alterações resultantes da análise que for feita.
Alguns exemplos concretos
Para que nível?
Um exemplo típico de um módulo que desperta um interesse para uma gama muito alargada de públicos é o dos três caleidoscópios tridimensionais. Constituídos por triedros espelhados interiormente, cada um correspondente a uma região fundamental, respectivamente do cubo, do dodecaedro e do tetraedro, chamam a atenção do público mais "distraído"
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pela beleza das imagens que proporcionam. Essa "contemplação" das imagens, de um ponto de vista apenas estético, é em geral seguida de uma experimentação e de uma curiosidade que, mesmo quando não encontram as respostas às questões levantadas, encerram aspectos muito positivos. Estes aspectos são facilmente acessíveis a crianças ou pessoas sem qualquer bagagem matemática prévia. Mas há depois toda uma gradação nos níveis a que estes caleidoscópios podem ser utilizados, consoante a bagagem matemática de quem os observa. E é enorme a riqueza de observações matemáticas que permitem, quer no aspecto geométrico, quer no aspecto algébrico, mesmo para pessoas com um curso de nível superior em Matemática. Nesta última situação, por exemplo as ideias de operação de grupo e de operação transitiva de grupo são ilustradas de uma forma muito "concreta", alguns dos subgrupos do grupo de simetria do poliedro – aqueles que são gerados apenas pelas reflexões num espelho ou em dois espelhos de um diedro – são claramente identificáveis e as respectivas classes laterais podem ser vistas muito distintamente como imagens perfeitamente diferenciadas. E se, no caso do grupo total, pode ser difícil para o visitante identificar através das imagens a lei de composição, já o mesmo não sucede para o caso de subgrupos com um número reduzido de elementos, em que a tabuada da composição é facilmente dedutível.
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(Nas figuras, cada elemento do grupo é representado por uma cor; a figura da esquerda representa a tabuada do grupo de simetria do cubo e a da direita a de um seu subgrupo.)
Outro tipo de observações muito instrutivas surge ao constatar que algumas das imagens – por exemplo um octaedro – tanto podem ser vistas no caleidoscópio cúbico como no tetraédrico, mas, para que isso suceda, é necessário que o objecto a introduzir no caleidoscópio tetraédrico já tenha alguma simetria, o mesmo não sucedendo no caso do caleidoscópico cúbico! Algo que corresponde, como é sabido, ao facto de o cubo ter "o dobro" das simetrias do tetraedro.
Que jogos?
Dois exemplos de jogos que têm estado presentes em exposições do Atractor são os jogos do Hex e de Sperner. Têm alguma semelhança na matemática que lhes está subjacente, pelo que me restrinjo a descrever o segundo, por menos conhecido. Um tabuleiro tem um triângulo com três vértices coloridos com três cores distintas – digamos verde, azul e vermelho – e esse triângulo está triangulado com triângulos mais pequenos. Há um conjunto de fichas com aquelas três cores e cada jogador, alternadamente, vai colocando uma ficha em cada vértice da triangulação. Única regra a respeitar: em cada lado do triângulo grande só é possível utilizar uma das cores que figuram nos extremos desse lado. Perde o jogador que primeiro completar um pequeno triângulo com vértices das três cores.
As regras são simples e qualquer pessoa pode obviamente jogar um tal jogo, independentemente da sua bagagem matemática. Será que este jogo pode empatar? É fácil ver que esta interrogação equivale à seguinte: será possível colorir todos os vértices dos pequenos triângulos segundo as regras acima indicadas sem fazer surgir um pequeno triângulo com as três cores representadas nos seus vértices? Sob esta aparência anódina, não é fácil para um leigo, suspeitar que a resposta a esta pergunta encerra um resultado matemático de alguma profundidade, caso particular de um lema de topologia algébrica e com suficiente poder para permitir a demonstração do teorema do ponto fixo para funções contínuas num disco fechado. Mas o interessante naquela pergunta é que:
Para ilustrar estes dois pontos, vale a pena referir dois casos que testemunhei directamente e que permitem, o primeiro corroborar que a capacidade para resolver o problema é relativamente independente da bagagem matemática anterior e o segundo compreender melhor como as acções do tipo das que o Atractor leva a cabo podem ter um impacto que transcende o que à primeira vista se poderia esperar.
"Abstracção" com interactividade e objectos concretos?
Um exemplo que me parece ilustrar particularmente bem como é possível transmitir uma certa noção de abstracção sem descaracterizar o tipo de exposições interactivas que o Atractor procura realizar é o das chamadas Torres de Hanoi.
O problema proposto neste jogo consiste, como é sabido, em encontrar uma estratégia óptima para mudar uma pilha de discos de uma haste para outra, movendo um disco de cada vez e nunca colocando um disco maior sobre um mais pequeno. É um jogo que permite uma excelente forma de introduzir a noção de indução e é muito utilizado no ensino tradicional. A essência do processo baseia-se na simples observação de que se eu sei mudar, segundo as regras, a pilha de todos os discos excepto o maior, posso fazê-lo uma primeira vez, depois mudo o disco maior e finalmente repito as operações iniciais, mas agora para a outra haste, aquela onde previamente coloquei o disco grande; e, assim, terei sabido mudar todos os discos. Ressaltam desta observação duas constatações:
Por recorrência, é fácil concluir que: o segundo maior disco se move duas vezes, uma antes do movimento do maior disco e outra depois e que, por exemplo nos movimentos antes do disco grande, a complexidade dos movimentos dos que são anteriores ao do segundo maior disco é semelhante à dos que lhe são posteriores. E assim sucessivamente. A mesma conclusão pode aliás ser tirada empiricamente por qualquer visitante ao fim de alguns jogos. O comportamento acabado de descrever corresponde a uma espécie de auto-semelhança da solução óptima deste jogo. É, pois, de esperar que qualquer bom modelo para a estratégia deste jogo reflicta de algum modo essa espécie de auto-semelhança. É o que sucede5 com os três modelos já expostos (e também com um quarto que ainda não foi concretizado):
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12 02 10 21 20 10 12 02 01 21 02 10 12 02 ...usando cores e tamanhos de letras em relação com os discos movidos (disco pequeno castanho da haste 1 para a haste 0, ...).
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As duas "constatações" acima mencionadas ressaltam imediatamente e de modo flagrante, em todos estes modelos, mesmo para o visitante mais distraído. E isso cria a ideia de que há algo de comum entre estes três modelos, apesar de terem aparências tão distintas. Descobrir essa estrutura comum, eventualmente difícil de caracterizar rigorosamente pela maior parte dos visitantes, mas muito fácil de apreender intuitivamente, é aceder a uma forma de abstracção, que é introduzida sem fazer perder a interacção com objectos e representações concretos.
Que espécie de rigor?
Os exemplos que acho mais apropriado referir neste contexto correspondem a algo que não foi ainda exposto pelo Atractor, embora já haja planos concretos sobre a forma de o fazer e já haja também algum material interactivo disponível na página WWW do Atractor. Prendem-se com noções topológicas, cuja definição em termos matematicamente precisos é bastante técnica e exige o domínio de alguns conceitos profundos, mas de que é possível dar ideias intuitivas que não requerem nem o domínio dessa técnica nem desses conceitos. Há, no entanto, que ter um extremo cuidado para evitar que essa abordagem intuitiva veicule ideias erradas. E uma confirmação da necessidade deste cuidado é dada pela relativa frequência com que surgem confusões sobre este tema em livros de vulgarização matemática.
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(cf. http://www.fc.up.pt/atractor/mat/orient.html)
Estes exemplos serão suficientes para dar uma ideia do tipo de cuidados a ter e, talvez também, das dificuldades que surgem precisamente quando se quer ser rigoroso nas ideias a transmitir, mas sem que esse rigor se traduza numa apresentação formal dessas ideias. Em algumas situações, nomeadamente nas acima dadas como exemplos, trata-se de verdadeiros desafios que se nos colocam. Possam estes exemplos despertar o interesse de colegas para aceitarem desafios análogos relativamente a outros temas e assim contribuírem para o enriquecimento do Atractor e a qualidade da divulgação matemática que ele pretende levar a cabo!
Notas de Rodapé
1
Nem se pode dizer que este fenómeno seja circunscrito ao nosso País. Um colega alemão, Albrecht Beutelspacher, envolvido num projecto de divulgação matemática, dizia que inquéritos conduzidos na Alemanha indicavam que a Matemática aparecia à cabeça como a disciplina mais odiada (embora também aparecesse à cabeça como a mais amada!).2
Mas convirá, ainda assim, precisar que, nesta intervenção, não estou a exprimir nenhum ponto de vista «oficial» do Atractor sobre a problemática da divulgação matemática, mas apenas as minhas opiniões a título individual.3
Science Amusement Centres.4
Um outro factor determinante na inclusão de um módulo, mesmo quando já concebido, decidido e projectado em pormenor, tem sido o de encontrar alguém disposto a produzi-lo!5
Na verdade, se o modelo for escolhido criteriosamente, quando o número de discos tende para infinito o modelo tenderá para um conjunto-limite, e é para esse conjunto-limite que uma verdadeira auto-semelhança se verifica e não para cada um dos modelos finitos.6
Curiosamente, verifica-se que só há uma maneira natural de escolher as massas para os diferentes discos.