Na China, a matemática era vista como uma necessidade e
utilidade. Era importante educar e construir um país com grande
desenvolvimento, sendo a Arquitetura, o Comércio, as Financias e
a Agrimensura as bases para este crescimento. Os chineses tinham
um método para resolver sistema de equações lineares muito
semelhante ao «Método de Gauss»; começaram a usar o número
negativo mais cedo que todas as outras civilizações; no séc. V
usavam 355/113
para
π, valor atribuído a um matemático Métius no séc. XVI; pelo séc.
VII já calculavam o volume da esfera usando o
Princípio de Cavalieri
(séc. XVII); No séc. XII,
Yang Hui provou a fórmula que determina “a soma dos
quadrados dos n primeiros números naturais por reunião de
volumes”, a mesma descoberta surgiu no ocidente no 19.º século.
O facto da matemática chinesa ter-se desenvolvido durante 3
milénios originou uma infinidade de aspetos com teor matemático,
contudo nesta secção iremos destacar aqueles que entendemos
serem os mais importantes.
Sistema numérico
Os chineses foram umas das primeiras civilizações a
entender que os cálculos num sistema decimal são mais simples e
eficazes. Em 1500 anos a.C. tinham sistema com 5000 caracteres
posicionais, mais tarde inventaram os
cilindros de contagem.
No séc. V a. C. já se efetuavam as quatro operações aritméticas
recorrendo aos cilindros. Estes tinham duas cores, uma para
representar os positivos, outra para representar os negativos.
O sistema é bastante útil e prático, contudo tem as suas
desvantagens, pois a verificação dos cálculos podia ser
exaustiva e o trabalho com vários cilindros podia ser demorado.
As operações são muito semelhantes às nossas, com a diferença de
se realizarem da esquerda para a direita e de se considerar o
algarismo de maior ordem na multiplicação.
Nove Capítulos sobre a arte da Matemática
Antes do aparecimento da maior obra chinesa “Nove
Capítulos sobre a arte da Matemática”, o povo chinês já
tinha um raciocínio matemático avançado. No campo da Lógica eram
discutidos e estudados paradoxos muito semelhantes aos de Zenão
(séc. V a.C.), mas a área de maior interesse era a astronomia.
Neste século surgiu um dos teoremas chineses mais conhecidos, o
Teorema de Kou Ku/Gougu.
Com o passar dos séculos, foram construídos manuais escolares
com noções do campo da astronomia, da arquitetura, da
engenharia, da aritmética e da geometria.
Liu Hui
(250 anos a.C.), um dos maiores matemáticos chineses,
considerado o Euclides
Chinês, fez comentários à obra
Nove Capítulos sobre a
arte da Matemática e reescreveu-a com alguns
melhoramentos. Possivelmente, a obra original foi escrita
antes de 400 anos a.C.
e era constituída por uma mistura de conhecimentos de diferentes
autores. A obra de Liu Hui está dividida em 9 capítulos, sendo o
1.º Capítulo sobre a Medição de Campos.
1.ºCapítulo
Este capítulo indica o processo simplificar, somar/subtrair e
multiplicar/dividir frações. No caso da simplificação de
frações, eles utilizavam o máximo divisor comum (m.d.c) usando
subtrações sucessivas dos restos. Para somar ou subtrair eles
colocavam todas as frações com o mesmo denominador fazendo o
mínimo múltiplo comum (m.m.c.). Para multiplicar ou dividir
calculavam o m.d.c. e procediam como nos dias de hoje. O mesmo
tratamento nas operações com frações foi utilizado no século VII
na India e no século XV na Europa. Ainda neste capítulo,
Liu Hui dá uma
aproximação de π baseada no limite, “se
escrever um polígono de n lados, com n o maior número possível
de lados, dentro de um círculo, então a área do círculo é igual
à área do polígono”.
Hui conseguiu mostrar que π=3,141024
, substituindo n por 192 na fórmula
onde ln
representa
o comprimento do lado do polígono regular de n lados,
r o raio de um
circulo de comprimento 1
pé chinês e
a
área do polígono regular de
A2n
lados.
Zu Chongzhi, 200 anos
depois, enquadrou π entre 3,1415926 e 3,1415927. Este
melhoramento foi alcançado mil anos mais tarde na Europa.
Do 2.º Capitulo ao 6º Capitulo
Nestes capítulos são ensinadas as regras
das proporções, o método da falsa posição ou regra três simples,
o
método da decomposição ou dissecação
de uma figura para usar nos sólidos geométricos.
7.º e 8º
Capítulos
No 7º e 8º capítulo surgem as equações indeterminadas, as
equações com várias incógnitas, a
regra da dupla falsa
posição, mais tarde aplicada pelos Árabes na Idade Média e
por Fibonacci (séc. XIII), e o modo de operar com números
negativos usando os
cilindros de contagem. Esta visão e o conceito de operar foi
utilizada na India, no séc. VII e na Europa, no séc. XVI. Uma
equação com duas incógnitas era resolvida por um processo
idêntico ao da regra de
Cramer, ou seja, calculando o determinante de uma matriz. O
cálculo de determinantes foi usado pelo japonês
Seki Kowa e 10 anos
mais tarde por Leibniz em 1693. O
Método das tabelas
era usado na resolução de equações com várias incógnitas na
forma matricial e consiste na combinação linear de colunas para
eliminar alguns elementos da equação e obter a solução. Esta
invenção chinesa foi também descoberta pelo francês Buteo, em
1500.
9.º Capitulo
No último capítulo são apresentados
problemas envolvendo triângulos retângulos através de dois
conceitos, “empilhar quadrados” e a função tangente.
Hui pressagiou a
utilização das razões trigonométricas e mostrou como resolver
equações do 2ºgrau usando um método semelhante ao do babilónico.
Este manual foi criado por
Liu Hui no séc. VII e
contém o
método das diferenças duplas
(criado entre 206 a.C. e 24 d.C.) que é utilizado no cálculo de
distâncias usando a diferença entre duas observações. O primeiro
problema envolve a altura de uma ilha (x)
e
a sua distância ao primeiro poste (y)
como
mostra a ilustração 11. Da figura são conhecidas as alturas dos
dois postes (h)
, a distância entre eles (d)
, a distância entre o 1º poste e a posição que se tem que recuar
para ver o topo da ilha (a1) e
a distância entre o 2º poste e a posição que se tem que recuar
para ver o topo da ilha (a2)
.
Usando estes dados,
Liu Hui aplicou o
método das diferenças
duplas e descobriu as seguintes fórmulas:
Este método foi usado noutros
problemas, nomeadamente na topografia, para medir a “altura do
Sol”. Este processo mostra a tentativa da inclusão da Álgebra na
China, contudo só aconteceu no séc. XIII.
Chao Chung Ching e o comentário ao Teorema de Gougu
“O imperador Yu domina
inundações, aprofunda rios e correntes, observa a forma das
montanhas e vales, contempla lugares altos e baixos, alivia as
maiores calamidades e salva as pessoas do perigo […]. Isto é
possível pelo Teorema de Gougu”.
Este teorema originou 21 teoremas com ilustrações,
infelizmente quase todos foram perdidos. O “diagrama
sobre a hipotenusa é um dos sobreviventes (Ilustração
seguinte).
Chao Ching
conseguiu deduzir uma fórmula interessante para os catetos
a e
b
,
usando a hipotenusa, a adição e a subtração entre a
e b
, com
a <
b
.
Observando o diagrama podemos afirmar que a área do quadrado
exterior, de lado
a + b
,
é igual à adição da área do quadrado de lado
c
com
a área de 4 triângulos de catetos
a e
b
, ou seja,
Fórmulas semelhantes a estas eram aplicadas constantemente pela
civilização Babilónica no cálculo de áreas.
Nove Secções da Arte dos Números
e a Teoria Dos Números
Sun Tsu,
100 anos d. C. escreveu um manual de matemática, composto por
três livros, onde definiu medidas para o comprimento, área e
volume, para o peso de vários objetos; utilizou métodos iguais
aos de hoje para somar duas frações (regra da cruz); descreveu
um algoritmo para obter a raiz quadrada e construiu um
calendário que levantou alguns problemas relacionados com a
congruência de números, o que o levou à criação de um dos mais
famosos teoremas na Teoria dos Números, o
Teorema Chinês dos Restos.
Mais tarde, Ch’in
Chiu-Shao cria a obra
Nove Secções da Arte dos Números (em 1247) que consistiu num
melhoramento das obras
Nove Capítulos e no
Manual da Ilha do Mar. A obra apresenta problemas que
envolvem o cálculo de figuras geométricas reais; problemas que
envolvem uma fórmula semelhante à de Herão para calcular a área
de figuras; problemas de trigonometria; contém progressões
aritméticas/geométricas, equações de grau superior a dois que
envolvem o método de
Horner ou Regra de
Ruffini; mas as suas maiores inovações aparecem na resolução
de equações determinadas, usando o método do
elemento celestial e
na resolução de equações indeterminadas onde descreve
detalhadamente o método
chinês. Seguidamente vai ser exposto o
método chinês
utilizado num dos 81 problemas da sua obra.
Teoria dos Números também foi estudada por Diofanto de
Alexandria (275 anos d.C.), por Fibonacci (1202 anos d.C.) e
atingiu o apogeu com Euler (em 1801) e Gauss (em 1801).
Comentário de Yang Hui à obra Nove Capítulos
Método
de Yang Hui
Anéis, formas, dragões e tartarugas
Todas as civilizações, para se divertirem e ocuparem o
tempo, tinham vários jogos e passatempos, que utilizavam a
matemática. Na China, existiam vários puzzles, um deles era
os nove anéis ligados,
que consistia na separação de nove anéis todos ligados entre si.
Para resolver este puzzle era necessário saber um pouco sobre
números binários.
Outro puzzle que envolvia formas geométricas é o famoso
Tangram. O
yizhitu é uma
variante do Tangram e
contém 15 peças. Este puzzle tem uma grande utilidade pois
ensina relações importantes entre as áreas de figuras planas.
Uma famosa lenda chinesa diz que o imperador
Yu tinha na sua posse
dois diagramas muito especiais. Estes foram trazidos até ele por
dois animais, um dragão-cavalo (Ho
Thu) e uma tartaruga (Lo
shu). Nas costas de ambos encontravam-se os desenhos da
ilustração 13 e como podemos ver, um deles trata-se de um
quadrado mágico 3 por 3 onde a soma dá 15. Os chineses tinham um
grande fascínio por quadrados mágicos, estes quadrados foram
primeiramente observados por árabes mas é aos chineses que se
deve a construção da teoria sobre quadrados mágicos.
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