nš22 ISSN
0870-7669 Janeiro 1990
Folha Informativa
do Projecto "Computação no Ensino da Matemática"
CALCULADORAS NO ENSINO: SIM OU NÃO?
uma discussãoA discussão sobre o uso das calculadoras e computadores no ensino prossegue em todo o lado, com os mais diversos argumentos. À laia de ilustração, reproduzimos aqui duas cartas de leitores publicadas num dos ultimos números do "New Scientist" (Inglaterra):
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Peço licença para discordar de F. no que se refere a autorizar as crianças a utilizar calculadoras e computadores nas escolas. Uma das mais fortes razões para limitar o seu uso é que as crianças adquiram o hábito mental de manipular números e assim compreendam porque e como um número está certo, de preferência a simplesmente acreditar nisso porque uma caixa electrónica lhes diz. Se elas dependessem menos de muletas electrónicas para os cálculos talvez eu não tivesse tido de assistir, a semana passada, à cena patética de um empregado de balcão andar cinco minutos à procura de uma dessas malditas máquinas para calcular quatro vezes 9.99 libras.
Ian Simmons
Leicester- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Nos últimos três anos tenho estado a acompanhar um projecto nacional sobre a utilização de calculadoras na escola primária. (...) O projecto foi concebido com o objectivo de tentar desenvolver um curriculum sobre números para a escola primária que tivesse em conta as novas tecnologias. Foram enviadas directrizes às escolas participantes: encorajar o desenvolvimento da habilidade mental; ter uma calculadora sempre disponível na sala de aula para utilização livre pelas crianças; e - a mais controversa - deixar de ensinar os quatro algoritmos aritméticos básicos habituais aprendidos pela maior parte das pessoas até agora.
Apesar de alguma oposição inicial, e que ocasionalmente ainda se manifesta, por parte de alguns pais e professores, o projecto está a justificar as opiniões dos seus criadores, mais até do que eles podiam imaginar no início. Os professores integrados no projecto adoptaram um novo estilo de ensinar, talvez porque a proibição dos quatro algoritmos básicos, que anteriormente constituiam a principal dieta que eles ofereciam às crianças, os forçou a alterar o seu papel na sala de aula. Segundo eles, a atitude das crianças em relação à matemática, que anteriormente, na melhor das hipóteses, era de tolerância e, na pior, de aversão, mudou para algo de mais positivo, mais criativo, mais persistente, mais exploratório.
A calculadora na sala de aula, nestas condições, transformou as atitudes de todas as pessoas envolvidas. Crianças de seis anos desenvolvem os seus próprios métodos para a subtracção, crianças de sete e oito anos concebem métodos para a multiplicação de números grandes, e crianças de oito e nove anos começam a desenvolver métodos para substituir o terrível algoritmo da divisão. As crianças encontram os números negativos e os números não inteiros mais cedo do que é costume, e conseguem demonstrar uma compreensão deles que é superior à de muitos alunos do ensino secundário.
As crianças aprendem a reconhecer padrões criados por sucessões de números de todos os géneros porque são capazes de as gerar muito mais rapidamente com uma calculadora; e também tentam generalizar os padrões a fim de obter "regras" para os continuar, o que é um bom prelúdio para a álgebra que aprenderão mais tarde.
Ainda há quem não acredite, e muitas destas pessoas exprimem o receio de que as crianças fiquem dependentes das calculadoras, de que elas deixem de pensar se forem autorizadas a usar calculadoras livremente, e que elas precisam de saber as "bases" antes de se atirarem às calculadoras. Muitos destes descrentes, eles próprios educados com a dieta tradicional das chamadas bases, fundamentam a sua opinião na sua propria experiência; eles próprios usam agora uma calculadora e chegam a ter preguiça de fazer de cabeça as mais simples manipulações numéricas. Isso não acontece com as crianças no projecto. Apesar de algumas poderem ter essa tendência, o trabalho é feito de maneira que elas aprendam a discriminar. Uma criança, num grupo em que o professor estava a pedir respostas rápidas de cabeça, depressa pôs a sua calculadora de lado porque viu que os outros chegavam à resposta mentalmente antes de ele acabar de introduzir os dados na máquina.
A maior parte das crianças recusa-se a usar uma calculadora a menos que seja para alguma coisa que não conseguem fazer de cabeça, mas é normal encorajar as crianças a utilizar calculadoras para verificar os resultados obtidos mentalmente, a fim de se habituarem ao uso do teclado como preparação para posteriores utilizações mais complexas.
Janet Duffin
Numeracy Tutor
School of Mathematics
University of Hull
(tradução de J.F.Queiró)
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