nš7
ISSN 0870-7669 Out/Nov/Dez
1987
Folha Informativa
do Projecto "Computação no Ensino da Matemática"
DISCURSO PROFERIDO NA SESSÃO DE ABERTURA
DO V CURSO DE ACTUALIZAÇÃO
Em nome do Senhor Presidente do Departamento de Matemática, dou as boas-vindas aos Coleqas e desejo que um trabalho frutuoso seja realizado durante este tempo em que iremos conviver.
Tal como os anteriores, este Curso resulta exclusivamente da conjugação de duas vontades: a vontade do Departamento em organizá-lo e a vontade dos Colegas em participar. Mais uma vez, ainda, decorre este curso perante a indiferença desdenhosa, senão a hostilidade da hierarquia do Ministério da Educacão. Este Alto Organismo de serviço público e nacional foi mesmo ao ponto de, em Abril deste ano, nos ter anunciado do desejo de Secretaria de Estado do Ensino Superior em organizar uma Escola de Verão impondo as presentes datas, para recentemente nos anunciar que abandonava a questão - como quem se diverte perversamente num jogo de gato e rato.
Mas, se o problema da formação permanente dos Professores é um tema interessante de meditação para aqueles cujo mister e pensar estas questões no conforto intelectual da lonjura às situações difíceis, ele é também um problema real cujos efeitos se manifestam em sectores variados da vida económica e espiritual do País.
De facto, o evidente progresso científico faz de cada um de nós um estudante para a vida inteira o que obriga a repensar, quer a formação inicial, quer a formação permanente de todos nós, Professores ou não. E, se não forem olhados os problemas com suficiente cuidado, podem cometer-se erros cujo efeito se prolonga em tempo indeterminado.
Para além deste aspecto universal, temos entre nós problemas específicos como seja o dos Professores sem formação adequada. Porque, nomear alguém Professor sem a formacão adequada e não lhe facultar dignamente essa formação, e causar a esse alguém, e aos Colegas respectivos, um prejuízo moral que nenhum salário pode ocultar.
Ora, destes factos há a consciência expressa pela vossa presenca neste V Curso, tal como nos cursos anteriores. O desejo de aprender, de melhorar o próprio nivel sobrepõe-se assim à inclinação natural que seria aproveitar o tempo para os próprios afazeres. Portanto, é bom que se diga, e era bom que a hierarquia do Ministério quisesse compreender que, mais de uma centena de Professores vêm participar neste Curso com prejuízo para a sua vida pessoal.
Mas, do ponto de vista da formação permanente, este Curso é quase nada. Desse factor temos nós plena consciência e por isso apresentámos em Dezembro do ano passado uma proposta fundamentada para a participação do Departamento de Matemática na formação permanente, Esta proposta articula-se em três alíneas:
- cursos de nove semanas (a efectuar por três vezes) e que permitiriam o aprofundar de conhecimentos numa área particular da Matemática, v.g. Geometria;
- curso de um ano, a parte escolar do Mestrado em História e Metodologia da Matemática.
- Mestrado.
Estes cursos seriam ainda acompanhados da redação de manuais, elementos constitutivos de uma tão necessária Enciclopédia Matemática.
Ora, neste projecto, os cursos tal como este teriam um papel supletivo como é da sua natureza de cursos livres, com inscrição e escolha voluntárias dos módulos a assistir. É que há muito mais a fazer do que é possível em 15 dias, da maneira actual.
Pessoalmente detesto queixar-me, sobretudo queixar-me do Estado. Confio muito mais nos indivíduos com a sua vontade e imaginação, do que no juízo de funcionários por muito competentes que sejam. No entanto, num País tão centralizado há algumas infraestruturas que só o estado pode fornecer ou retirar. E sem um apoio consequente, acompanhado evidentemente de uma fiscalização apertada, é impossível ultrapassar esta fase primária em que nos encontramos com os presentes cursos.
Muito obrigado, tenho dito.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
[ Início do Número 7] [ Menu Principal ]