Page 155 - Textos de Matemática Vol. 34

LOUVOR E SIMPLIFICAC¸A˜O DE J. A. SAMPAIO MARTINS∗ F. J. CRAVEIRO DE CARVALHO
As primeiras palavras que me ocorreram, ao pensar neste texto, n˜ao s˜ao minhas:
“I was twenty, I won’t stand for anyone who says it is the best time of our lives.”
(“Aden Arabie”, Paul Nizan).
Como para as gera¸c˜oes imediatamente anteriores, n˜ao foi f´acil ter vinte anos no
meu tempo. Tempo esse que contagiou alguma da melhor poesia portuguesa da ´epoca. Pedro Homem de Mello falou em “E uma poeira sangrenta / Cobre o solo portuguˆes” (“H´a uma rosa na manh˜a agreste”), Gast˜ao Cruz, por exemplo, alude a “o c´eu cobrindo armas” (“As Aves”) e, na sua essencialidade, Sophia nomeia “Tempo de nega¸c˜ao . . . Tempo da amea¸ca” (“Livro Sexto”).
Foi mais ou menos por essa altura que conheci o homem que nos leva a juntarmo- -nos hoje aqui. Ligeiramente mais velho do que eu, trazia consigo, citando Gast˜ao Cruz de novo, “e o desvio // das balas disparadas / penetra nos ouvidos / fundo e ´arido”, ap´os uma estadia em Mo¸cambique de v´arios anos. Com ele viria a compar- tilhar, durante dois anos, o gabinete do Departamento de Matem´atica que ainda hoje ocupo.
Desses dois primeiros anos lembro-me, sobretudo, de dois miu´dos, garatujando a cores num quadro que ent˜ao havia, que se assustavam ligeiramente quando eu aparecia. Para com um deles, ficaria, anos mais tarde, num per´ıodo de sofrimento pessoal extremo, com uma d´ıvida de gratid˜ao enorme.
Por raz˜oes que n˜ao s˜ao agora pertinentes, tendo que ver sobretudo com o atraso cient´ıfico ent˜ao comum e que alguns se esforc¸avam j´a por quebrar, partimos ambos para Inglaterra para preparar os nossos doutoramentos, a 25 de Setembro de 1974.
O Boeing 727 da TAP circulou enervantemente sobre Heathrow antes de aterrar e, munidos intelectualmente das nossas malas de cart˜ao, despedimo-nos em Victoria Station.
O Professor Sampaio Martins conseguiu, para esses tempos, a proeza not´avel de, em 3 anos, se doutorar em Matem´atica Pura, sob a orienta¸c˜ao de um grande matem´atico britˆanico, David Edmunds, hoje connosco. Eu demoraria mais um ano, mas viria ainda a tempo de ensinar um curso brilhante, do qual fizeram parte muitos docentes desta casa e pelo qual ambos temos um carinho especial. S´o lhes n˜ao perdoamos n˜ao nos terem convidado para a comemorac¸˜ao dos seus 25 anos
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