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146 F. J. CRAVEIRO DE CARVALHO
de entrada na Universidade. Esperamos que se n˜ao esquec¸am de n´os, um pouco afectados pela decrepitude j´a, nos 50.
Ap´os o meu regresso, o nosso conv´ıvio acentuou-se e as nossas carreiras acad´emi- cas seguiram rumos paralelos. Aconteceu, como exemplo, virmos a gozar um per´ıodo sab´atico ao mesmo tempo, nas Universidades de Sussex e Southampton. Descobrimos, nessa altura, uma maneira de, usando os telefones dessas universi- dades, falarmos todas as sextas-feiras uma hora, gratuitamente. Se fomos desco- bertos, ningu´em nos apresentou as contas telef´onicas.
Reconhecidas as suas capacidades de gest˜ao, o Doutor Sampaio Martins desem- penhou tarefas de grande responsabilidade para os destinos do Departamento de Matem´atica. Cumpriu-as, fui disso testemunha, com grandes empenho e esfor¸co pessoais. Lisonjeou-me que, muitas vezes, me pedisse opini˜ao e gostaria de evocar um epis´odio ocorrido numa altura em que trabalhei mais de perto com ele. Discor- dando frontalmente de uma proposta que ele pretendia apresentar numa reuni˜ao, resolvi n˜ao comparecer `a primeira parte dessa reuni˜ao, para evitar uma situa¸c˜ao embara¸cosa. Teve, na altura, o Doutor Sampaio Martins a gentileza de me mandar chamar logo a seguir `a discuss˜ao da proposta.
Foi um professor excelente e a investiga¸c˜ao que desenvolveu, ao longo da carreira, de alta qualidade. Publicou, por exemplo, artigos em Journal of the London Mathe- matical Society, The Quarterly Journal of Mathematics e Annali di Matematica Pura ed Applicata.
Poderia ter produzido mais, sem du´vida. Se o n˜ao fez, n˜ao foi, certamente, por falta de talento, mas por opc¸˜ao. Admirei sempre a sua cultura, a matem´atica em particular, e surpreendeu-me sempre a rapidez do seu racioc´ınio perante a lentid˜ao do meu, constatada nas muitas vezes que a ele recorri por quest˜oes de Matem´atica.
Tendo come¸cado por citar Paul Nizan, aproprio-me, para terminar, da ideia dos dois versos finais de um poema de Helder Macedo (“Poesia” (1957 - 1968)): “Quando algu´em ainda t˜ao novo escolhe a reforma, n˜ao sobra muito para os que ficam.”
∗ A` maneira de “Louvor e Simplificac¸˜ao de A´lvaro de Campos”, de M´ario Ce- sariny de Vasconcelos.